Edward de Vere, o grande dramaturgo inglês que escrevia sob o pseudónimo de “William Shakespeare” (alegadamente um mau actor, que mal sabia assinar o seu nome), escreveu, numa das suas obras primas “Hamlet”, o famoso monólogo, onde descreve, em poucas linhas, o dilema da natureza humana.
A nossa Pátria, que é a Língua Portuguesa, e é mais rica que a língua de de Vere, não nos permite traduzir “to be” para, apenas “ser”. Podemos usar “estar”. Porque apenas “ser” não nos basta, para entender o sentido do texto. Podemos “ser”, mas também podemos “estar”. Para o contexto do solilóquio, até “existir” pode ser usado.
Estar ou não estar, sofrer ou não sofrer, atacar ou não atacar. Acabar com os infortúnios, com os inimigos, ou simplesmente sonhar que eles possam não existir? Sonhar que, após a morte, algum sonho virá.
Quem suportaria os golpes e escárnios do tempo, a vilania do opressor, as afrontas dos soberbos, as aflições do amor desprezado, a justiça morosa, a insolência dos poderosos e o desdém que o honrado recebe de gente indigna podendo, com um simples punhal, acertar todas as contas?
Se deixarmos para quando nos livrarmos da carcaça mortal e apenas para o que virá a seguir a correção dos males terrenos, talvez nunca tenhamos a recompensa. Amanhã é sempre tarde demais, o tempo de agir é sempre hoje. Ser ou não ser, estar ou não estar.
Teremos apenas duas opções? Teremos sempre que ser ou não ser? Estar de um lado, ou estar de outro? Estar de um lado, será a negação do outro lado? Será que temos apenas duas opções, ser ou não ser, estar ou não estar, esquerdo ou direito? A favor ou contra? Uma vida de opostos, onde, se não estivermos com uns, estamos com os outros?
Será que quando apenas duas opções se nos afiguram, não podemos, simplesmente, não participar? Será que um dos lados está sempre certo, e outro sempre errado?
Será que, quando vemos distúrbios em Lisboa, temos que estar com uns, e portanto contra os outros? Não poderemos analisar o problema, e ver que ambos têm razão em parte do que dizem, mas que também estão errados nas soluções? Não será a causa a fonte da solução, e a causa não se encontrar na espuma dos dias?
Será que ao vermos conflitos internacionais, na Ucrânia, na Palestina, não devemos, apenas, dormir, quiçá sonhando, por não nos dizer respeito? Para quê tomar armas contra um mar de opressão, se não podemos parar as flechas e lanças do infortúnio?
O Princípio da Não Agressão não deve dar-nos pausa para apenas atacar quando somos atacados? Apenas lutar pelo que nos foi retirado, tomar a ação quando pode surtir efeito, não quando nos pedem para continuar o mal. Não será esta mensagem libertária a melhor mensagem que temos, para lutar contra os infortúnios modernos?
Haverá mais nobreza de espírito em sofrer os lances e as lanças do infortúnio ou em enfrentar um mar de distúrbios e, armando-se, dar-lhes fim?
Um libertário não ataca, se não atacado, a si ou aos seus. O conceito de “seus” actual, numa sociedade cada vez mais socialista, mais globalista, onde o indivíduo é relegado para segundo plano, em função do “bem comum” tem-se alargado, e os “meus” esbatem-se em pessoas que não conheço, não quero conhecer, e pelas quais não me quero bater, mas me dizem na televisão, repetidamente, insinuadamente, veladamente, que devo apoiar.
Quero bater-me, isso sim, por quem acredita no mesmo que eu. Quero bater-me por ideias e ideais que me sejam próximos. Quero desfazer males, corrigir erros, traçar um rumo, cumprir objectivos. Descobrir o encoberto.
Com Portugal a entristecer, sem luz e sem arder, hoje nevoeiro, é a hora de cumprir o Destino.
É hora de espalhar a mensagem Libertária em Portugal.
É hora de cumprir o que não foi cumprido, de fazer o que não foi feito.