Estamos a chegar ao final do mês de Agosto, e se notamos alguma coisa é a falta de reportagens nas televisões sobre os pavorosos incêndios que todos os anos assolam o país, com pessoas meio despidas munidas de baldes água a tentar salvar as suas casas.
Já sabemos que o Verão é a silly season, mas creio que a recordação que temos de Verão, além da praia, das bolas de berlim e dos mergulhos são as notícias dos incêndios.
E aparentemente, tal como o cão que morde o homem não é notícia, também não é normalmente notícia a falta de incêndios, ou a redução de incêndios. Parece que os media apenas podem fazer notícias com as desgraças, nunca com as coisas boas.
Pois bem, vou tentar fazer uma notícia com boas notícias, e vamos ver como corre. Aproveito, e tento não manipular a informação, de forma a puxar a brasa à minha sardinha (até porque não a tenho, que já está a passar a época).
Assim, fui procurar a informação de área total ardida em Portugal continental, que está disponível aqui (obviamente também já tenho todos os relatórios em minha posse, não vá existir alterações). O INCF emite relatórios com alguma periodicidade, desde 2001, e nomeadamente perto da altura de 15 de Agosto (ou início de Setembro, antes de 2004). Os dados apresentados são os dados acumulados de 1 de Janeiro a 15 de Agosto, excepto antes do ano 1999, em que o esta informação é de 1 de Janeiro a 1 de Setembro. Esta diferença de 15 dias será normalmente negligenciável, visto que os incêndios ocorrem antes.
Resumindo, e colocando a informação num gráfico, temos esta informação:
A primeira conclusão a tirar é que 2024 foi o segundo ano com menor área ardida dos últimos 29 anos. Isto é verdadeiramente excepcional, certamente a melhor notícia dos últimos quase 20 anos, e mesmo assim… não foi notícia, nem sequer foi propriamente muito divulgado. Parece que só as más notícias são notícia, ou pior só as más notícias são escolhidas para serem divulgadas.
Recordo que conseguimos estes resultados fantásticos, tendo, há menos de um mês (estes dados são até 15 de Agosto), registado segundo o programa Copérnico da União Europeia, o dia mais quente de sempre . Se Galileu, em vez de Copérnico, ouvisse esta afirmação diria naturalmente eppur fa freddo… Não se move, mas está fria.
A segunda conclusão a tirar é, portanto, que ou os meios de combate a incêndios melhoraram dramaticamente, ou então.. há uma ligação directa entre as temperaturas altas e os incêndios. Se esta relação existe, significa que não esteve calor de monta (o que a maior parte das pessoas que esteve em Portugal este Verão sabe), e que estas notícias dos dias mais quentes de sempre, os meses mais quentes de sempre, as “ebulições globais”, etc., se calhar são… manipulação?
Ao fim de vários meses a ouvir dizer que o mês anterior tinha sido o mais quente de sempre, comecei a prestar mais que 1 segundo de atenção a estas notícias que nada tinham a ver com a minha percepção da realidade, e notei que a fonte era sempre a mesma. O programa Copérnico, da União Europeia. Várias coisas podem ser ditas sobre este programa Copérnico (talvez noutra altura), mas este é o gráfico oficial:
Farei apenas uma observação. Os sistemas naturais nunca evoluem de forma rectilínea, e neste caso é possível desenhar uma recta sobre a evolução nos últimos 40 anos… A minha sensação é que depois do embuste que foi a solução milagrosa do problema da camada do ozono (que só começou a ser monitorizado depois de alegadamente se ter tentado resolver o problema), alguém enviou uns satélites para o espaço com o intuito de ter dados que comprovassem teorias nunca provadas cientificamente, mas das quais dependiam triliões de dólares de financiamento em energias “verdes”. Mas afasto-me do ponto.
Ardeu pouca floresta, este ano. E o que é interessante é que isto até poderia ter sido previsto, e aparentemente até obedece a ciclos bem identificados. O Sol (uma bola de fogo a milhares de quilómetros da Terra, da qual depende directa ou indirectamente toda a energia existente no planeta Terra) tem ciclos de intensidade de 11 anos, em que a energia que liberta vai variando. Quererá isto dizer que se analisarmos a média de 11 anos de área ardida, este valor é relativamente estável?
Correcto. Em área ardida, a média de 11 anos é estável. Aliás, vemos perfeitamente no gráfico acima que os grandes incêndios se dão em períodos de 2 ou 3 anos, espaçados por mais ou menos 12 anos. O pior período dos últimos 29 anos foi 2003 / 2005, e 13 anos depois iniciou-se mais um período 2016/17, em que os incêndios foram anormalmente elevados. Será possível que seja o Sol o maior responsável pela temperatura no planeta Terra? É até insultuoso que se faça essa pergunta, considerando que há poucas mais alternativas. Se não fosse o Sol, seria o quê??
As boas notícias é que, mesmo que o Copérnico continue a dar-nos notícias que todos nós sentimos e vemos com os nossos olhos que não parecem ser verdade, a realidade consegue continuar a dar-nos dados para poder analisar a realidade bem melhor do que os jornais.
Nicolau Copérnico foi um dos primeiros cientistas a basear as suas teorias em observação, mais do que em tratados escritos e dogmáticos (foi ele que contradisse a ideia de que a Terra era o centro do Universo). Parece que os satélites Copérnico não vão ter a mesma fama que o seu homónimo.